Ismael Moura, um Paraibano de 39 anos, de Cuité, grande curta metragista, que se destacou no meio cinematográfico por ser autodidata e ter conquistado mais de 80 prêmios, já no seu primeiro curta profissional: “Ilha”.
Ismael também dirige o maior espetáculo da Paraíba, a céu aberto, “A Paixão de Cristo”, que emociona uma plateia mista de diferentes partes do país – na última edição teve um público com mais de 6 mil pessoas.
Não por acaso, Ismael Moura foi premiado pela Revista Paraíba S.A. como destaque cultural e produção artística de 2017. Ismael Moura revela que é muito grato por todo incentivo que vem da própria família, de sua mãe Dona Cristina Moura e sua esposa, Edna Pontes. “Tudo o que faço, todos os prêmios e méritos que recebo são dedicados à minha família, que está sempre ao meu lado”, confessa Ismael Moura.
Vejamos as impressões de Ismael Moura sobre o meio cinematográfico:
IW – Qual o primeiro filme que você viu no cinema? Que impacto lhe causou?
IM – “Lembro-me vagamente de ir com meu pai ao antigo cinema de minha cidade, via muito filmes como os Trapalhões e alguns faroestes americanos, mas foi aos 9 anos, quando meu pai descobriu que tinha que fazer uma cirurgia urgente de coração, em meio a todo desespero em conseguir grana para arcar com a viagem, exames, e outras despesas, tivemos que vender tudo. Foram momentos muito difíceis. Já, em São Paulo, antes da cirurgia, meu pai, tirou um dia para me levar ao cinema, talvez por medo de não ter outra oportunidade. Lembro-me como se fosse hoje, assistimos ao filme “Crocodilo Dundee ” (1986), eu estava encantado, e ao sair do cinema disse a meu pai que um dia ele veria um filme no cinema e no final teria escrito: “ um filme de Ismael Moura”. Sempre sonhei com isso, mas infelizmente fiz meu primeiro curta 2 anos após sua morte. Porém, cada trabalho que realizo, fico imaginando meu pai assistindo comigo e me lembrando do seu sorriso ao me ver encantado com o tamanho da tela do cinema”.
IW – Você não teve oportunidade de estudar cinema numa instituição, mas se tornou autodidata e com seu curta “Ilha”, conquistou mais de 80 prêmios. Um resultado impressionante. Você acaba se tornando uma referência pra muitos novatos. O que você pode transmitir aos que são autodidatas como você e aos que já se profissionalizaram, mas não conquistaram o tanto que você já conquistou?
IM – “Aos 9 anos coloquei em minha lista de sonhos, ser cineasta. Todos temos que ter algo que desejamos alcançar. Ter foco é a principal ferramenta na construção de um sonho. Mesmo sem formação em cinema, tive como faculdade a vontade de aprender. Em uma oficina de curtas realizado pelo cineasta Torquato Joel, aprendi que na realização de um filme, devemos saber o que queremos contar e pra que contar aquela historia! Nunca me apeguei ao fracasso nem a ilusão de festivais e dinheiro. Sempre busquei aprender, seja vendo filmes, ou os bastidores de grandes produções como dicas de cinema, através da internet”.
IW – Na sua cidade, Cuité (Paraíba), você dirige um lindo espetáculo – que eu já tive a oportunidade de conferir e me emocionar -, qual a diferença em dirigir um espetáculo grandioso como “A Paixão de Cristo” e um curta-metragem? O que mais lhe realiza profissionalmente?
IM – “Posso dizer que os dois me realizam, sempre amei o cinema e sempre amei a Paixão de Cristo no qual comecei a participar aos 12 anos. O cinema me proporcionou muitas coisas, me fez conhecer muitos lugares e pessoas maravilhosas, além de ser a realização de um sonho que por muitos anos imaginei que não seria possível realizar. O espetáculo da Paixão de Cristo realizado em minha cidade é a continuidade de um amor antigo. Aos 12 anos comecei a participar, passando por varias funções, desde escoteiro, que ficava só organizando o público à soldado, pastor, ladrão, Jesus e hoje estou como diretor, onde pude concretizar as minhas ideias para o engrandecimento do espetáculo. Amo o que faço e só faço o que amo, e essas são duas grandes paixões que pretendo poder fazer até morrer”.
IW – Após expressivos prêmios, facilita para a realização do próximo projeto ou a cobrança e pressão se tornam inviáveis?
IM – “Isso é algo que busco não pensar, já ouvi muitas coisas em relação à dificuldade de realizar outro trabalho com a mesma qualidade e premiações, mas não posso me prender a isso. Ao realizar “Ilha” nunca imaginei ganhar esse número expressivo de prêmios, e com esse mesmo pensamento quero fazer os próximos, sei que não será fácil superar mais de 80 prêmios conquistados com “Ilha”. Quero continuar realizando meus filmes, aprendendo com eles e sempre com a mesma emoção e paixão como se fosse o primeiro”.
IW – Você que já passou por tantos festivais…alguma sugestão para que o cinema independente tenha uma maior visibilidade?
IM – “A realização de mais festivais, consequentemente, com a expansão para cidades do interior, e leis mais sérias que obriguem a exibição de curtas brasileiros nos grandes cinemas, antes dos longas. Isto seria de grande importância, para alcançar um público que está acostumado apenas com as grandes produções internacionais, para que este mesmo público possa conhecer mais o nosso cinema” .
IW – Quem são seus ídolos cinematográficos?
IM – “Não sou um cara de muito conhecimento cinematográfico, muitos me perguntam qual minha inspiração, sobre cineastas famosos de nomes até complicados, (risos) mas na verdade cresci vendo filmes da seção da tarde, entre outros canais da TV aberta, então alguns diretores fizeram parte da minha historia como Steven Spielberg, Quentin Tarantino, Stanley Kubrick e por último, um que considero o mais importante de todos, o gênio George Mélies”.
IW – Cite seus 10 filmes favoritos.
IM – “Um Sonho de Liberdade”, “O Poderoso Chefão”, “Forrest Gump”, “Alien, o 8* Passageiro”, “Rocky, um Lutador”, “De Volta para o Futuro”, “Blade Runner – O Caçador de Andróides”, “A Lista de Schindler”, “O Resgate do Soldado Ryan” e “À Espera de um Milagre”.
IW – Algum curta que você admire profundamente e gostaria de destacar?
IM – “Não vou conseguir lembrar de alguns curtas o qual me apaixonei nos festivais que participei, mas tem dois em especial no qual gosto muito que são: “A canga” de Marcus Vilar e “Passadouro” de Torquato Joel. São dois curtas paraibanos no qual busco muita referência”.
IW – O que lhe despertou a ponto de querer realizar o curta “Ilha”? Que alerta você quis passar através do filme?
IM – “A criação inicial de “Ilha” veio através de umas imagens que surgiu de repente, mas precisava ter algo mais, algo pra contar, uma única imagem não seria o bastante para se contar uma história a qual dialogasse com o público. Ao observar e ouvir histórias de filhos reclamando da dificuldade de se cuidar dos pais, já de idade avançada, me questionei à respeito de como seria para um homem velho, cuidar de um filho com problemas, o isolamento e a falta de compreensão de uma pessoa da roça, isolado do mundo tendo que lidar com uma situação tão complexa? Ilha não é só um espaço físico, estamos sempre ilhados de alguma forma, moralmente, emocionalmente… Quantas vezes ficamos sem encontrar um caminho, quantas vezes ficamos presos à nossa ilha interior, seja por medo de cruzar o mar desconhecido que nos rodeia ou mesmo por estarmos acomodados em nossa pequena ilha?!”
IW – Se você fosse um personagem de cinema, qual seria?
IM – “Não sei qual personagem eu poderia ser, mas tem dois que me encaixaria: o personagem animado, “Professor Pardal” e um a qual me deram o titulo de “Macgyver” .
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