Na semana passada fiz a cobertura, enquanto jornalista, da 21ª edição do Cine PE, na cidade de Recife, capital do estado de Pernambuco, que fica no nordeste brasileiro.
Esta é a segunda vez que cubro o festival (a primeira foi em 2014), que é um dos mais importantes do nosso calendário, cujas sessões são realizadas no tradicional Cine São Luiz. Este foi um ano atípico para o festival, pois ele deveria ter acontecido em maio e foi adiado, por conta de um boicote de vários realizadores que resolveram tirar seus filmes de última hora, por divergências políticas. As divergências envolveram dois filmes ditos de direita que são: Real – O Plano Por trás da História que abriu o festival e O Jardim das Aflições que fazia parte da mostra competitiva e também foi o grande vencedor do festival, levando o prêmio de melhor longa-metragem tanto pelo júri oficial quanto pelo júri popular, além do prêmio de melhor montagem.
O Jardim das Aflições é um documentário, dirigido pelo pernambucano Josias Teófilo, que aborda o dia-a-dia de Olavo de Carvalho, filosofo brasileiro, conservador de direita, radicado nos Estados Unidos. A premissa do filme partiu dos temas do livro homônimo que ele publicou em 1995. Na minha opinião, o documentário é muito mais laudatório do que polêmico e político. E foi aí que, justamente, o festival bateu o pé, mantendo o filme na mostra competitiva, substituindo alguns curtas que saíram por outros, mostrando serem resistente às pressões partidárias. Durante todo o festival, Sandra Bertini, diretora do festival, deixou claro que o Cine PE tem espaço para todos, que é democrático e é independente de posicionamento político.
Antes de comentar os outros longas, tenho que enaltecer a excelente seleção de curtas-metragens, que chamaram a atenção do público, dos jornalistas e da crítica presente no festival. Sem dúvida, os curtas-metragens foram a cereja do bolo do Cine PE deste ano. Além disso, os debates com os realizadores (quase todos presentes) foram sempre muito enriquecedores.
Alguns curtas, apesar dos baixíssimos orçamentos, merecem particular destaque:
Autofagia, do pernambucano Felipe Soares, apresenta uma bela fotografia e conta a história de um homem simples do campo que se envolve com um travesti e acaba por matá-lo. Vale lembrar que o Brasil, infelizmente, está no topo dos crimes contra travestis no mundo.
Outro filme, da categoria pernambucanos, muito bem recebido foi Entre Andares, de Aline Van der Lindem e Marina Moura Maciel, que fala sobre um prédio no centro do Recife que está em estado de degradação. Lá, cinco moradores relembram os seus dias de glória no edifício, que chegou a abrigar um cinema de arte.
Outro curta muito emocionante foi Aqueles Dias em Dezembro, onde o diretor paulistano Felipe Arrojo Poronger conta a história de seus avós, que chegaram ao Brasil como imigrantes.
As animações também estiveram bem presentes no festival (no ano em que se comemora os 100 anos de animação brasileira). Três delas me chamaram mais atenção que foram: O Ex-Mágico, que fala de um funcionário público aparentemente sem passado, sem paciência e com misteriosos poderes, que busca libertar-se das angústias que os seus dons mágicos lhe causaram. A animação é baseada em um conto de Murilo Rubião (falecido jornalista e escritor brasileiro).
Já Peleja do Sertão, do cearense Fábio Miranda mistura elementos da cultura da região do nordeste do Brasil com a cultura pop.
Por último, o poético Quando os Dias Eram Eternos fala sobre um filho que volta para sua casa de infância, para cuidar de sua mãe doente.
O curta que mais provocou engajamento durante os debates foi o documentário Mulheres Negras: Projetos do Mundo, de Day Rodrigues e Lucas Ogasawara, que discute o papel e a dificuldade das mulheres negras na sociedade, através do depoimentos de cinco entrevistadas.
Na categoria dos longas-metragens competitivos estavam dois thrillers policiais com apelo mais popular, O Crime da Gávea, de André Warwar e Toro de Edu Felistoque, dois filmes mais autorais como Los Leones ,de André Lage e Borrasca de Francisco Garcia, e o fraco, sim muito fraco, documentário O Caso Dionisio Diaz, de Chico Amorim e Fabiana Karla.
Assim foi o Cine PE 2017, que chegou, em sua maioridade, cheio de polêmicas, com um público razoável e que pecou no processo de curadoria de longas-metragens.
A diretora Sandra Bertini, apesar de tudo, estava muito satisfeita com os resultados do festival: “Eu me sinto com a missão cumprida”, afirmou Sandra.
Para saber mais sobre o festival e os premiados é só acessar o site: https://cine-pe.com.br/
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