Depois da tournée internacional, “Dois amigos, um século de música”, Caetano e Gil, de volta ao Brasil, ofereceram ao público Paulista uma nova canção e uma tomada de posição pela paz.
A canção, “As Camélias do Quilombo do Leblon”, segundo Caetano Veloso, foi composta na madrugada da véspera da sua apresentação.
A longa viagem por terras estrangeiras parece ter inspirado os dois amigos e despertado os laços seus criativos: desde o álbum “Tropicália”, de 1993, que não compunham juntos.
À polémica gerada em torno da sua não adesão ao boicote de outros músicos para actuar em Israel, os dois músicos responderam com uma bofetada de luva branca. Mostraram que a música é uma arma e usaram-na.
Escolheram ir a Israel conhecer a realidade, visitaram Susiya, onde vivem 340 pessoas, palestinos, cujas casas irão ser demolidas pelo governo israelita. Depois dessa visita, reuniram-se, em Tel Aviv com activistas e músicos que representam a esquerda israelita. No final do encontro, Caetano fez um discurso conta a ocupação dos territórios palestinos. Pediu o fim do controlo dos israelitas sobre os palestinos: “Parem com a ocupação, parem com a segregação, parem com a opressão”.
Agora, de regresso a casa, Caetano e Gil apresentam uma canção onde fazem um paralelismo com o cenário trágico que conheceram e o drama da escravatura no Brasil, com as lutas pelo abolicionismo, pela liberdade do povo escravizado.
O título, “As Camélias do Quilombo do Leblon”, será certamente uma alusão ao movimento preconizado pelo português José de Seixas Magalhães, que possuía uma zona de cultivo, no Leblon, no Rio de Janeiro. Os quilombos eram zonas onde os escravos fugidos procuravam abrigo. O português possuía uma floricultura, que servia de fachada para abrigar os escravos fugidos. Era-lhes dado trabalho e esconderijo, com a cumplicidade dos principais abolicionistas da capital. A sua floricultura era conhecida como o “quilombo Leblond”. Era um quilombo simbólico, onde eram cultivadas camélias, o símbolo do movimento abolicionista. A rede de protecção era de tal modo ampla que as autoridades não se atreviam a actuar. Até a princesa Isabel recebia, simbolicamente, ofertas de ramos de camélias.
Na canção os dois génios da música brasileira, fazem um paralelismo e jogo de palavras, em tom de samba, entre o Leblon e Hebron, na Cisjordânia e cantam esperança:
“As camélias da segunda abolição, cadê elas?”
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