Sugerimos uma homenagem à primeira Marvel Girl: Jean Grey. No universo da Banda Desenhada as mulheres nem sempre têm o destaque que merecem. As super-heroínas, ou são produzidas a partir dos seus “masculinos”, à semelhança de Eva a partir da costela de Adão – como no caso de Spider Woman e de She-Hulk – ou têm um papel secundário ou… morrem!
Apesar do universo cinematográfico da Marvel continuar a crescer, e prometer vir a tornar-se tão rico como o universo dos Comics, parece não haver espaço no grande ecrã para todas as personagens merecedoras de protagonismo. Achamos que é o caso de Jean Grey e “The Dark Phoenix Saga”… pelo menos para já.
Na primeira publicação dos X-Men em 1963, entre as personagens que integram o elenco inicial aparece apenas uma mulher: Jean Grey, uma adolescente, cujos poderes telepáticos e telecinéticos se manifestaram após a morte da sua melhor amiga. Jean foi levada pelos pais junto do Prof. Xavier, para ser tratada. Foi quando ele a analisou na sua máquina, “Cerebro”, introduzindo-a num plano astral e descobriu uma parte da sua mente, de grande poder e que se manifesta como uma ave mitológica, a Phoenix. Foi a primeira mutante feminina a integrar os X-Men, conhecida também como Marvel Girl, de grandes poderes telepáticos e telecinéticos.
Durante o ano de 1980, Jean Grey ganha destaque, durante nove publicações mensais, à volta do seu surgimento como Dark Phoenix, de poderes ampliados, atormentada por dilemas morais numa luta interna com o seu potencial poder e a necessidade de controlo, dificultando a sua relação com os outros X-Men e com o próprio Prof. Xavier. Num momento em que Jean deixa emergir a força da Dark Phoenix, destrói um planeta alienígena habitado e vai ter que pagar por isso.
Os autores de “The Dark Phoenix Saga”: Chris Claremont (escritor), John Byrne (desenhador), Jim Shooter (editor principal), Jim Salicrup (editor dos primeiros X-Men), Louise Jones (editora dos X-Men, em 2010) e Terry Austin (arte final), na reedição comemorativa dos 30 anos da primeira publicação da saga, reflectem sobre a forma como foram construindo a personagem a partir de Jean Grey, a Marvel Girl, como esta foi evoluindo e o impacto que isso teve na publicação final, na revista #137, em Setembro de 1980.
John Byrne revela que não gostava da Phoenix, desde que o nome apareceu, “porque ela, instantaneamente tornou os outros X-Men meros veículos e ela nem era um X-Men” – pois não, era uma mulher…
Claremont, confessa que o facto de ter sido ele a criar a personagem lhe deu um grau de envolvimento que o co-autor, John Byrne, não tinha. Foi essa a razão por que John a quis fora do livro e também por preferir o super-herói Wolverine. As intenções do criador de Jean Grey, desde o Comic #100, da série dos X-Men, eram a de criar uma “X-Man”, segundo as suas palavras, a primeira heroína cósmica.
Na opinião de Jim Shooter, a morte da Phoenix, no final, foi a forma de mostrarem ao mundo que a Marvel se preocupa com as suas personagens como se elas fossem seres vivos e que existem consequências lógicas para o que acontece com elas, mesmo que isso seja a morte da que foi uma das personagens mais populares durante anos.
Actualmente, no site oficial da Marvel, Jean Grey ou a Phoenix, não constam no destaque “Mulheres da Marvel” , apesar de ainda terem surgido ainda algumas revistas em que são apresentados finais possíveis, mas que acabam sempre com o afastamento da personagem ou que lhe atribuem um papel mais secundário.
Vários futuros possíveis foram propostos para a Phoenix. Segundo Claremont, o seu criador, a personagem terá ela mesma que decidir se quer perder o poder de um deus exterminador e sobreviver, ou negar tudo isso, perder os poderes e ficar uma sombra de um ser ou ter um final em que poderia ter casado com Scott (Cyclops) teriam filhos e seriam felizes para sempre. Ou seja, ou a Phoenix se torna uma vilã poderosa, ou se torna uma pessoa sem poder ou tem um final de conto de fadas. Claramente, é dado a entender pelo autor que ele teria preferido a poderosa Phoenix, com as consequências morais que isso traria para a Marvel. Na impossibilidade de o fazer, optam pela morte de Jean Grey.
Como a própria ave mitológica, a Phoenix continua a ressurgir, quer no universo dos Comics, quer no cinema, ressurge das cinzas, renasce, deixa descendência, mas nunca mais volta a ter o mesmo protagonismo. A saga de Jean Grey como Dark Phoenix merecia mais um momento de glória, no grande ecrã.
Nas palavras dos seus autores, no seu “epitáfio” , em 1980:
“Jean Grey could have lived to become a god. But it was more important to her that she died… a human!”
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