Metade dos europeus é capaz de recordar o telefone da casa em que vivia aos 10 anos, mas não o número actual dos seus filhos, escritório ou inclusive cônjuge
A nossa incapacidade de reter informação importante deve-se ao facto de estarmos a delegar nos dispositivos digitais a responsabilidade de memorizar
O ‘Efeito Google “, ou seja, a tendência de esquecer a informação por estarmos acostumados a procurar o que desejamos na internet, tem vindo a aumentar à medida que se adiciona cada vez mais informação pessoal e importante aos dispositivos móveis, de acordo com um novo estudo realizado pela Kaspersky Lab. O estudo revela que a maioria dos europeus ligados à Internet não é capaz de recordar de memória os números de telefone importantes, incluindo o dos seus filhos [53%], o da escola dos seus filhos [90%] ou o do seu local de trabalho [51%]. Cerca de um terço também não consegue recordar o número do seu parceiro – mas quatro em cada dez ainda se lembram dos seus números de telefone da casa em que viviam quando tinham entre 10 e 15 anos de idade.
A Kaspersky Lab inquiriu 6.000 utilizadores, maiores de 16 anos, em seis países europeus. Os dados extraídos do estudo sugerem que a nossa incapacidade de reter informação importante deve-se ao facto de estarmos cada vez mais a delegar a responsabilidade de memorizar nos dispositivos digitais, sobretudo nos smartphones. Pouco menos de metade (43%) dos consumidores mais jovens inquiridos (16 a 24 anos de idade) diz que o seu smartphone tem quase tudo o que necessitam saber ou recordar.
A Kaspersky Lab baptizou este fenómeno como Amnésia Digital: a experiência de esquecer a informação que se confia e armazena num dispositivo digital. O estudo encontrou evidências de Amnésia Digital em todos os grupos etários e por igual entre homens e mulheres.
O estudo também demonstra que a perda ou roubo dos dados guardados nos dispositivos digitais ou smartphones deixariam muitos utilizadores profundamente afectados. Quatro em cada dez mulheres e o mesmo número de utilizadores entre os 16 e os 24 anos de idade ficariam profundamente tristes se não pudessem recuperar as suas memórias armazenadas. Uma em cada quatro mulheres e jovens inquiridos entraria em pânico, já que os seus dispositivos são o único local onde guardam imagens e informação de contacto.
É preocupante que, apesar da crescente dependência dos dispositivos digitais e de estes se terem tornado nos guardiões das nossas memórias, os europeus não protejam adequadamente estes dispositivos com soluções de segurança TI, como conclui o estudo da Kaspersky Lab. Os smartphones e tablets estão especialmente mal protegidos: só um em cada três (36%) instala segurança TI adicional no seu smartphone e só um quarto (23%) o faz no seu tablet. Além disso, um em cada cinco (21%) não protege os seus dispositivos digitais de qualquer maneira.
“Os dispositivos conectados enriquecem as nossas vidas, mas também vieram provocar esta Amnésia Digital. Temos que entender as consequências deste fenómeno a longo prazo e adaptar a forma como recordamos e protegemos essas memórias. Os números de telefone das personas mais importantes para nós estão apenas à distância de um clique – pelo que já não nos damos ao trabalho de memorizar esses detalhes. Além disso, o impressionante número de 86% dos europeus afirma, que no nosso mundo hiperligado cada vez se utilizam mais números, endereços, passwords, etc. pelo que é quase impossível lembrarmo-nos de tudo, mesmo que quiséssemos fazê-lo. A perda ou divulgação indevida desta informação valiosa seria mais do que um simples problema, já que deixaria muitas pessoas profundamente afectadas”, afirma Alfonso Ramírez, director geral da Kaspersky Lab Iberia.
Por seu lado, a Dra. Kathryn Mills, do UCL Institute of Cognitive Neuroscience, em Londres, afirma: “O acto de esquecer não é necessariamente uma coisa má. Nós, humanos, adaptamo-nos lindamente às circunstâncias e se não nos lembramos de tudo é porque não temos vantagens em fazê-lo. Mas esquecer pode tornar-se numa coisa má quando envolve a perda de informação que devia ser memorizada”.
Segundo esta especialista, “uma das razões pelas quais os consumidores se preocupam menos em memorizar informação prende-se com o facto de terem dispositivos digitais aos quais confiam plenamente essa tarefa. Em muitas sociedades, ter acesso à Internet transmite o mesmo sentido de estabilidade de poder ter electricidade ou água corrente”.
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