As baleias da subordem Mysticeti, conhecidas como baleias sem dentes, se comunicam produzindo sons de baixa frequência. O famoso “canto” desses animais — os maiores do planeta — pode atravessar quilômetros de mar até ser captado por um ouvinte, sem que se saiba exatamente como as ondas sonoras são processadas por este. Agora, com a ajuda de modelos de computador, uma equipe de cientistas descobriu que os ossos da cabeça das baleias concentram a energia do som no ouvido dos animais, possibilitando a audição.
A partir da cabeça conservada de uma baleia-comum (ou baleia-fin, Balaenoptera physalus) que encalhou na costa da Califórnia há mais de uma década, a equipe obteve imagens de tomografia computadorizada posteriormente transformadas em um modelo completo dos ossos, músculos e órgãos da cabeça. Aplicando-se virtualmente a passagem de frequências sonoras pela cabeça, foi possível identificar a interação entre elas, cada parte óssea do crânio e os demais órgãos.
Em dissertação publicada online no periódico PLOS ONE, os cientistas afirmam ter descoberto duas maneiras pelas quais as imensas criaturas (como a baleia-azul e a baleia-cinzenta) são capazes de ouvir: caso as ondas sonoras sejam curtas — mais curtas que o próprio comprimento da baleia —, as vibrações do som penetram a pele e chegam ao sistema de ossos do ouvido; por outro lado, comprimentos de onda maiores são captados pelos ossos do crânio e amplificados nos mesmos, sendo transmitidos aos ouvidos conforme fazem vibrar os ossos (condução óssea).
O método aplicado assimilou a física da transmissão dos sons à anatomia do animal, concluindo que até as mais baixas frequências produzidas pela espécie (entre 10 e 130 hertz) são amplificadas pelos ossos do crânio. Para o coautor do estudo Ted Cranford, da Universidade da Califórnia em San Diego, a “[c]ondução óssea é provavelmente o mecanismo predominante para a audição nas baleias-comuns” e outras baleias sem dentes.
Os pesquisadores planejam confeccionar modelos semelhantes das cabeças de outras espécies de baleias da subordem Mysticeti, a fim de obter evidências ainda maiores para seus achados.
Por ora, a maior compreensão da audição das baleias pode auxiliar na regulação do ruído provocado por atividades humanas como a navegação comercial e os exercícios militares, poluição sonora que potencialmente interfere no canto das baleias e, consequentemente, na comunicação entre os animais, afirmaram os pesquisadores em comunicado.
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