
Modelos climáticos preveem que o fenômeno El Niño deve voltar a ocorrer a partir do final deste ano. Dados obtidos por satélites, boias de monitoramento e veículos subaquáticos serão utilizados na estimação da intensidade do evento enquanto testam a precisão dos próprios modelos e o conhecimento dos cientistas acerca do clima — passado e futuro.
Os primeiros sinais de um El Niño apareceram em janeiro, quando se enfraqueceram os ventos alísios — que sopram do leste para o oeste nos trópicos — e um surto de ventos vindos do oeste trouxe águas quentes para a região equatorial leste do Oceano Pacífico, condições semelhantes às verificadas em 1997 (vide imagem abaixo), ano em que ocorreu um dos mais fortes eventos desta espécie já registrados. No mesmo ano, secas no sul da Ásia e na Austrália, além de chuvas torrenciais na costa oeste das Américas, deixaram um rastro de morte e destruição.

Para que o El Niño tenha efeito, é necessária a união de fatores oceânicos e atmosféricos, de forma que as temperaturas oceânicas mais elevadas no leste do Pacífico fortalece os ventos que trazem ainda mais água quente para a área. Em 2014, as condições atmosféricas abortaram o fenômeno, uma vez que o oceano voltou a se resfriar entre os meses de maio e julho.
Segundo o cientista climático Anthony Barnston, da Universidade de Colúmbia em Nova York, os dados mais recentes indicam que os ventos do oeste estão novamente se formando. Segundo ele, as chances de que um El Niño fraco ou moderado aconteça ainda no fim de 2014 são de 75%. Analogamente, informações da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA) dão conta de que esta probabilidade é de 65%.
A evidência empírica para as previsões deverá vir nos próximos meses e servirá como avaliação para a mais nova geração de modelos climáticos simulados em computadores. Por enquanto, pode-se dizer que tais modelos foram bem sucedidos quando previram que o El Niño do primeiro semestre não se confirmaria.
O cientista climático Wenju Cai ressalta a necessidade de compreensão da forma como o El Niño se comportará em termos de frequência e intensidade, tendo em vista as mudanças climáticas. Nesse sentido, não existe consenso entre os modelos desenvolvidos e aplicados até agora, mas Cai argumenta que, até o final do século XXI, o fenômeno deve se tornar duas vezes mais comum do que na maior parte do século anterior, uma vez que um clima (em média) mais quente — somado ao aquecimento da água do oceano provocado pelo próprio El Niño — poderia gerar eventos climáticos mais extremos.
Mike McPhaden, do NOAA, afirma que “ficará bem mais claro nos próximos dois ou três meses se esses desenvolvimentos recentes são presságio de um grande El Niño — ou qualquer El Niño”.
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