
Que os elefantes africanos têm um olfato extremamente apurado nós já sabíamos. Mesmo assim, um levantamento genético de 13 espécies de mamíferos surpreendeu os pesquisadores: entre todas as espécies estudadas, eles possuem a maior quantidade de genes relacionados ao olfato — 2 mil.
A quantidade — a maior já descoberta em um animal — é mais de duas vezes maior do que o número de genes olfativos encontrados nos cães domésticos e cinco vezes maior do que a encontrada em humanos (que possuem cerca de 400), de acordo com estudo que figura na edição de 22 de julho do periódico Genome Research. Os 2.000 genes olfativos dos elefantes deixaram para trás os segundos colocados e antigos recordistas, os ratos, que possuem “apenas” 1.200 genes relacionados ao sentido do olfato.
Um nariz na palma da mão
Por que os elefantes teriam desenvolvido tamanha soma de genes relativos ao olfato? “Não sabemos a verdadeira razão”, afirmou à National Geographic o líder do estudo Yoshihito Niimura, cientista do departamento de bioquímica aplicada da Universidade de Tóquio. Mas o palpite de Niimura envolve a importância do olfato para esses animais em contraste com sua visão pouco capacitada.
“Imagine ter um nariz na palma da sua mão”, exclamou. Para o pesquisador, o olfato é fundamental para o funcionamento da tromba, utilizada pelos elefantes, como uma mão, na busca e coleta de alimentos e outros objetos. Esse quadro pode ter guiado a evolução da imensa quantidade de genes olfativos verificada no estudo.
No entanto, ainda é incerta a relação entre a quantidade de genes e a real capacidade olfativa no mundo animal. Os cães, por exemplo, são conhecidos por seu olfato aguçado, apesar de sabermos que o número de genes dedicados ao olfato destes animais é menor do que o encontrado nos ratos, nos quais não vemos habilidade semelhante, explica Niimura.
Portanto, é possível que os cães tenham narizes mais sensíveis, embora reconheçam menor variedade de odores. Nossos fieis companheiros caninos são capazes de reconhecer os humanos, por exemplo, através do faro, pois detectam moléculas de odor em concentrações muito baixas, podendo seguir o rastro deixado por um cheiro que tenham detectado. Nesse sentido, afirma o cientista, o olfato de um cão é imensamente superior ao humano, ou mesmo ao dos elefantes.
A vantagem dos elefantes estaria no maior escopo de cheiros que conseguem captar. Estudos anteriores haviam demonstrado que seus primos, os elefantes asiáticos, podem distinguir moléculas odoríferas bastante semelhantes, moléculas estas indistinguíveis para os seres humanos e outros primatas. Dessa forma, os elefantes podem reconhecer os demais elefantes pela urina e, talvez, comunicar sua atratividade sexual por feromônios.
Resposta ao perigo
Estudos revelaram que o elefante africano (Loxodonta africana) é capaz de distinguir os cheiros de dois grupos étnicos do Quênia: os masai (que frequentemente atacam elefantes em demonstrações de virilidade ou em disputas por áreas de pastagem) e os kamba (que ocasionam pouca ou nenhuma ameaça aos elefantes, dado seu estilo de vida baseado na agricultura). De fato, já se chegou a sugerir que o elefante africano reconheça o perigo na própria voz dos masai, em decorrência da ameaça que estes impõem.
Segundo Joyce Poole, co-fundadora do grupo de preservação ElephantVoices, a nova pesquisa confirma suas observações de campo. “Se o vento está soprando na direção correta, os elefantes podem captar o odor dos humanos (…) a mais de um quilômetro de distância, ou detectar e encontrar a localização exata de uma minúscula fatia de banana a mais de 50 metros de distância”, diz. Poole também sugere que os elefantes possam localizar membros de sua família pelo odor da urina deixada no solo.
“[O]s elefantes são muito inteligentes”, contempla Niimura, e parte dessa inteligência pode estar atrelada ao uso que os animais fazem dos seus genes olfativos.
Make It Clear Brasil
Um apoio ao livre pensamento e a um entendimento do mundo baseado em evidências
Comentários