E naquela manhã de domingo, a Menina encarava a si mesma diante do espelho embaçado após o longo banho. Percebia claramente que a noite passada não teria sido das melhores. Consta que, vez ou outra, era vitima da insônia e dos pensamentos noturnos que não a deixam adormecer.
As olheiras, ainda mais marcadas que o costume, denunciavam-na: não teria pregado os olhos a noite inteira. Isso tudo apenas por encontrar, escrito num pedaço de papel, o número do telefone daquele que ainda há pouco era o responsável pelos longos e furtivos suspiros, tão comuns aos enamorados.
Ainda outro dia teria rabiscado algumas palavras de amor, as quais pretendia dedicar ao menino que outrora fora dono dos seus sorrisos. Lembrou-se da urgência com a qual escrevera aquele pequenino poema de amor e de que, logo na primeira oportunidade, declamara-o ao pé do ouvido.
E sem hesitar nem por um segundo sequer, ligou-lhe só mais uma vez. Queria apenas ouvir novamente aquela voz. Não teve sorte, a pobre Menina.
E pelo infortúnio da chamada sem resposta, sentiu o peito carregado de mágoa. O silêncio a ensurdecia sempre.
Teria neste exato momento em que decidira apagá-lo, removê-lo quase que cirurgicamente de dentro do peito…
Mas, verdade seja dita, a Menina que costuma viver de peito aberto e alma exposta nunca foi boa em apagar gente. Falharia redondamente mais uma vez!
CAssis, a Menina Digital
LEIA TAMBÉM:
Liberdade: questão de tempo, não de temperatura.
Dialógo transatlântico: a Menina e as conversas de amor.
Pequena crônica de “Bom dia!” e desejos latentes.
A Foz. O D’Ouro. A Menina, o Velho e o Mar.
Comentários