
Ma(caco)temática: macaco-rhesus escolhe entre dois símbolos aos quais foram atribuídos valores aritméticos. Estudo aponta que os macacos podem realizar somas simples de valores. Crédito: Margaret S. Livingstone
Os macacos podem utilizar símbolos para somar, dizem os pesquisadores da Harvard Medical School que conduziram um novo experimento com macacos-rhesus (ou resos). A descoberta deve ampliar o conhecimento acerca da origem evolutiva da capacidade matemática, habilidade que os seres humanos exercem com excelência ímpar (até onde se sabe) no reino animal.
Os resos são parentes distantes dos humanos: tomaram um ramo distinto do nosso na árvore da evolução há cerca de 25 milhões de anos, contra os meros 6 milhões de anos decorridos desde que os chimpanzés (nossos parentes vivos mais próximos) passaram a trilhar seu próprio caminho, em comparação.
Pesquisas anteriores haviam demonstrado que os chimpanzés podem somar números de um dígito, mas os cientistas não explicaram como, quer no cérebro de um chimpanzé quer no humano, os números são representados e a operação matemática é efetuada. O novo estudo com macacos-rhesus (Macaca mulatta) indica que a matemática se dispersou por mais espécies de primatas e pode ajudar a responder a tais questões.
Para tanto, a neurobióloga Margaret Livingstone e seus colegas ensinaram os valores de 26 símbolos distintos — os numerais arábicos de 0 a 9, mais 16 letras — aos macacos-rhesus, associando cada símbolo a uma recompensa que variou entre zero e 25 gotas de água, suco de maçã ou refrigerante de laranja. Então, confrontados com uma escolha entre dois símbolos quaisquer, os macacos deveriam escolher aquele que representava a maior recompensa.
Os pesquisadores estimaram a taxa de acerto dos animais na tarefa em cerca de 90%, indicando que os macacos haviam, de fato, aprendido a lidar com a relação entre símbolos e valores específicos, uma vez que “querem o máximo” da recompensa proposta, “e esta é apenas uma das muitas maneiras de descobrir a melhor forma de obter o máximo”, disse Livingstone.
Em seguida, os macacos foram expostos a pares de símbolos que representavam uma recompensa equivalente à soma de ambos, e deveriam comparar esta soma a um terceiro e único símbolo. Isso exigiu dos resos o aprendizado da soma dos valores dos pares de símbolos a fim de que, novamente, conseguissem a maior recompensa possível. Após quatro meses de treinamento, os macacos aprenderam a realizar a tarefa, tendo sido capazes de somar os símbolos e comparar o resultado ao símbolo separado.
Entretanto, a equipe de Livingstone percebeu que a quantidade de acertos não chegava a 100% do número de experiências, mesmo com os animais já treinados. Descobriu-se que eles tendem a subestimar o valor de uma soma quando este é comparado a um símbolo de valor parecido (como escolher o valor 13 em detrimento da soma entre 8 e 6, por exemplo).
De acordo com a pesquisadora, em dada soma de dois símbolos, os macacos prestam “mais atenção ao número grande do que ao pequeno”, ou seja, consideram o valor maior em sua totalidade e adicionam apenas uma fração do valor menor, ocasionando os erros verificados. Exemplificando, se o número 7 presente em uma soma for o maior dos valores, será computado integralmente; se for o menor, terá seu valor reduzido.
Para confirmar que os macacos estavam calculando os valores e não só memorizando o valor de cada soma de símbolos, os cientistas os treinaram para identificar um outro conjunto de 26 símbolos — formados por grupos de quadrados unidos, como no jogo Tetris. Em artigo publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences, os cientistas relataram que a habilidade de cálculo fora preservada, apesar da menor familiaridade dos primatas com os novos símbolos.
“Os macacos não memorizaram a adição de pares de numerais”, afirmou Livingstone, mas combinaram dois símbolos com razoável exatidão. No futuro, a pesquisadora planeja descobrir se os macacos também podem aprender a multiplicar.
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