Uma equipe de pesquisadores brasileiros e franceses alerta para a possibilidade de o vírus Chikungunya se tornar epidêmico nas Américas a partir do fluxo de turistas gerado em ocasião da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, a ser realizada neste país nos meses de junho e julho.
Em estudo publicado no Journal of Virology, o epidemiologista Ricardo Lourenço-de-Oliveira, do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, afirma que o risco de uma epidemia “catastrófica” no continente americano será aumentado pela presença de pessoas das mais variadas partes do mundo no Brasil, país que já sofre com a alta incidência do vírus da dengue, transmitido pelos mesmos mosquitos — Aedes aegypti e Aedes albopictus — que servem de vetores ao Chikungunya.
“Aquela que dobra”
O vírus Chikungunya (CHIKV) provoca a febre de mesmo nome, doença cujos sintomas se assemelham aos da dengue, incluindo fortes dores nas articulações, músculos, cabeça e manchas na pele. O paciente ainda pode desenvolver a forma crônica da doença, com a permanência dos sintomas por meses, e o índice de mortalidade dela é de menos de 1% dos infectados. O primeiro surto de Chikungunya cientificamente descrito ocorreu em 1952 no Planalto Makonde, região que engloba partes de Moçambique e Tanzânia. O significado da palavra Chikungunya, originária de uma língua do leste africano, resume os efeitos debilitantes da febre: diz-se que é “aquela que dobra”, ou seja, que faz a pessoa se contorcer.
As duas espécies de mosquitos Aedes ocupam uma área que se estende da capital argentina, Buenos Aires, ao estado do Missouri, localizado no meio-oeste dos Estados Unidos. Então, para estimar as chances de a febre Chikungunya realmente se tornar uma epidemia, Lourenço-de-Oliveira e seus pares compararam as capacidades que ambas as espécies têm de transmitir três diferentes genótipos do vírus chikungunya.
Em geral, as taxas de eficiência da transmissão dos três genótipos atingiram alarmantes 83,3% e 96,7% para os vetores A. aegypti e A. albopictus, respectivamente. Descobriu-se que, mesmo no clima temperado do Missouri, o A. albopictus têm alta capacidade de transmissão de dois dos três genótipos do vírus. “O perigo de o vírus Chikungunya se espalhar por todas as regiões tropicais, subtropicais, e mesmo temperadas das Américas é um risco maior do que nunca”, diz o pesquisador.
Casos da doença na América ocorreram, inicialmente, na ilha caribenha de São Martinho, incidentes identificados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em dezembro de 2013 como a primeira vez em que a febre Chikungunya foi contraída localmente no hemisfério ocidental. No entanto, até o dia 4 de julho, centenas de pessoas já haviam sido diagnosticadas com a doença em 11 países e territórios do Caribe (Caraíbas), de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) do governo dos Estados Unidos: Anguila, Ilhas Virgens Britânicas, Dominica, República Dominicana, Guiana Francesa, Guadalupe, Martinica, São Bartolomeu, São Cristóvão e as porções francesa e neerlandesa de São Martinho.
Para Lourenço-de-Oliveira, seus resultados mostram que as Américas são “muito receptíveis e vulneráveis à transmissão do CHIKV, e extremamente expostas à ocorrência de uma epidemia imediata de Chikungunya” devido à infestação geral dos dois vetores no continente.
Fonte: Medical Xpress
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