O Telescópio Gigante de Magalhães (GMT) será construído no Chile e busca parceria financeira com o estado de São Paulo. Crédito: GMTO
Astrônomos paulistas esperam que uma instituição estatal de apoio à pesquisa acadêmica invista US$ 40 milhões na construção do Telescópio Gigante de Magalhães (GMT), um de três megatelescópios em fase de planejamento. A estrutura, que conta com um espelho de 25 metros, será construída no Observatório de Las Campanas, no Chile.
Os pesquisadores do estado ainda poderão ter acesso a outro megatelescópio projetado, o E-ELT (European Extremely Large Telescope), caso o Brasil se junte ao Observatório Europeu do Sul (ESO). O termo de adesão ao ESO foi assinado em 2010 pelo então ministro Sérgio Rezende, da pasta de Ciência e Tecnologia, e prevê um aporte superior a um bilhão (mil milhões) de reais na instituição — a ser realizado no curso de uma década. O acordo ainda não foi consumado e espera aprovação no Legislativo.
O projeto do GMT é administrado por um consórcio de organizações dos Estados Unidos, Austrália e Coreia do Sul. Quando finalizado, o telescópio deverá coletar seis vezes mais dados do que os maiores observatórios existentes, o que possibilitará um profundo estudo das origens das estrelas e galáxias. Na semana passada, a diretoria do GMT anunciou que uma equipe de especialistas deu seu aval técnico à construção do telescópio de US$ 880 milhões que, agora, só necessita das garantias financeiras para sair do papel.
Espera-se que a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), órgão financiado com dinheiro proveniente de impostos, entre no consórcio, evitando a burocracia federal. A proposta analisada pela FAPESP compreende a aquisição de uma participação de 4% sobre o GMT, garantindo, portanto, que os pesquisadores paulistas terão direito a 4% do tempo anual de observação, além de uma representação fixa na diretoria do consórcio.
Na opinião de Wendy Freedman, presidente da diretoria do GMT, São Paulo e o GMT são “uma boa combinação”. Porém, a decisão seguirá uma revisão do encontro entre astrônomos brasileiros e lideranças do GMT. Os benefícios à indústria local também pesarão na decisão, de acordo com Hernan Chaimovich, conselheiro do departamento científico da FAPESP.
Chaimovich acredita que o processo decisório será encerrado em abril do presente ano, e ressalta que o órgão de fomento à pesquisa também discute com o Ministério da Ciência e Tecnologia acerca de uma contribuição federal ao GMT, fato que levaria o acesso ao telescópio gigante a cientistas de fora do estado de São Paulo. Uma resposta positiva por parte do ministério poderia causar certa preocupação nos defensores da participação no ESO, uma vez que o uso do GMT diminuiria o interesse no E-ELT, grande fator levado em conta quando do acordo com o ESO.
O diretor-geral do ESO, Tim de Zeeuw, não vê as duas propostas como excludentes, porque, diz ele, a entrada da FAPESP em outro consórcio “é independente da retificação do Brasil no ESO, e muito diferente”. Afinal, como as construções dos megatelescópios ainda levarão muitos anos, a entrada no ESO daria aos astrônomos brasileiros acesso imediato aos observatórios atuais do Chile, como o Atacama Large Millimeter/sub-millimeter Array (ALMA) e o Very Large Telescope, “instalações [de tecnologia] de ponta acessíveis à comunidade brasileira aqui e agora”, acrescenta de Zeeuw.
Beatriz Barbuy, astrofísica da Universidade de São Paulo e chefe da Sociedade Astronômica do comitê do Brasil no ESO, acredita que o processo de adesão a esta instituição deverá ser finalizado em 2014, restando a tarefa de “encontrar o orçamento”.
Fonte: Nature
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