Mal abrira os olhos naquela manhã e já dava conta de que o tilintar da chuva na janela do seu quarto havia cessado. Não quis acreditar que finalmente o mau tempo dera uma trégua nos seus dias. E quem sabe, deste modo, os raios de sol desfizessem a amargura que insistia em fazer morada no seu peito?
Ainda tinha o coração ferido, é certo, faltando alguns pedaços desde a última desilusão. Se havia algo nesse mundo com o que a Menina não sabia lidar, era com os amores desfeitos e os afetos por dar. Contudo, naquela início de domingo em que o sol, com algum esforço, desbravava as pesadas nuvens de chuva, ela quis também explorar as possibilidades para além das muralhas do seu castelo. Mesmo que aquele sol fosse de pouca dura, aproveitar cada instante como se fosse o último, mais que necessário, tornara-se urgente. E assim foi, toda faceira, passear pelas ruas da sua cidade. “Como sorte, ainda esbarro no amor na próxima esquina”, desejou a Menina.
[tic tac: o tempo não pára!]
O dia chegava ao fim e o sol já se preparava para escorregar horizonte abaixo. Consta que a Menina, desiludida por não ter encontrado aquilo que tanto procurava nas ruas [o amor!], também se preparava para se pôr: o seu sol dava sinais claros de que, muito em breve, desistiria de brilhar… Ao menos por aquele dia!
Com o gosto amargo dos que conhecem bem o sabor da solidão, ela seguia rumo à casa que, afinal, a promessa de que dias ensolarados leva o amor para as ruas parecia não se confirmar. Parecia, do verbo “olha com atenção”! Pois bastou apenas um olhar mais minucioso ao seu redor para perceber o que o amor esteve ali diante dos seus olhos o tempo todo: casais enamorados e as suas demonstrações públicas de muito afeto, crianças correndo, felizes da vida, experimentando muitas das sensações pela primeira de muitas vezes na vida, famílias inteiras que há dias andavam enclausuradas aproveitavam o dia de sol para atividades que os aproximavam ainda mais…
Bastou olhar com “olhos de ver” para perceber que o sol até poderia ser de pouca dura, mas o amor não! Esse resistia até mesmo [e inclusive!] aos dias de tempestades. E, com peito repleto de contentamento, seguiu com a sua vida, na certeza de que, capaz de enxergar o amor, era, portanto, uma felizarda neste planeta.
CAssis, a Menina Digital
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