Apreciava o romper do mar nas rochas: ondas. Sabia que distante dos seus afetos, o eleito ousava brincar solitário. Tocava-se: rocha. Lembrou-se do desejo tomar-lhe de assalto: água. Desejou desaguar nele: gozo.
Como nunca dantes, percebeu-se dele. Não sabia ao certo apontar desde quando, sabia apenas que lhe pertencer era a redenção. Nunca fora tão livre, mesmo no desejo insano de atar-se nele. Excitava-lhe saber que, algures, havia um homem [menino-passarinho] que via nela a sua musa dos pensamentos mais impuros. Eram livres para tal feito. Sempre foram: pássaros! Sentiu-se viva ao pensar que aquele homem [colibri de voo a dois] despertava nela desejos, sonhos, querências varias. Quis ser dele enquanto recordava uns versos ditos na voz de Bethânia:
“Ah, quem me dera
Ir-me contigo agora
A um horizonte firme, comum
Embora amar-te
Ah, quem me dera amar-te
Sem mais ciúmes
De alguém em algum lugar
Que nem presumes
Ah, quem me dera ver-te
Sempre a meu lado
Sem precisar dizer-te
Jamais cuidado
Ah, quem me dera ter-te
Como um lugar
Plantado num chão verde
Para eu morar-te
Ah, quem me dera ter-te
Morar-te até morrer-te “
– “Quem me dera ‘ser-te’, oh menino alado, que com tamanha destreza veste em meu rosto os melhores sorrisos…”, desejou ela, sem perceber que pensava em voz alta e que sorria com todos os dentes.
Quis ser dele e, então, foi [voo avulso], por que o destino daquelas duas aves raras já estava selado há vidas inteiras e a vida que os cercava, senhoras e senhores, costumava parecer sempre mais urgente que para o resto do mundo.
O tempo voava inexorável enquanto a Menina mantinha os seus olhos no bater das ondas, como numa espécie de transe, possuída pelo desejo de ‘ser-lhe’. Deixou que os seus pensamentos voassem solitários [só mais esta vez!], rumo ao pouso certo [ninho feito]… Foi-se!
CAssis, a Menina Digital
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