Não era preciso muito para ter, ao fim do dia, mais um bonito postal daquela que era a sua vista preferida. Ela sempre soube que, chovesse ou fizesse sol, bastava um dispositivo qualquer capaz de capturar instantes e logo teria o seu intento alcançado. Ao longe, via-se o portentoso Farol da Foz, onde o D’Ouro tem por hábito desafiar o Atlântico, com as ondas a baterem num ritmo constante como se compusessem uma sinfonia qualquer. O sorriso era sempre inevitável nestes preciosos instantes captados pelos olhos da Menina. Sorria por que era o mínimo que podia fazer depois do privilégio de poder apreciar mais um daqueles espetáculos comandados na perfeição pelos deuses que a protegiam, dia sim, outro também.
O sol brilhava tímido naquele dia. Diante da imensidão azul, lembrou-se de que há muito já não via o mar tão de perto. Apreciou com algum deleite alguns destemidos meninos que, do auge da coragem quase arrogante que se apodera das almas juvenis, enfrentavam as fortes ondas que resultavam daquele épico encontro do rio com o mar. Percebeu que naquele instante uma pontada de inveja apoderou-se do seu indomado coração. Quis ser um daqueles meninos. Desejou saltar. Veloz e destemida. Lembrou-se de quando aprendera, ainda na infância, a nadar. Desejou [outra vez!] saltar. Quis ser água: rio e mar. Peixe Grande!
CAssis, a Menina Digital
Comentários