Tinha sempre os pés descalços quando pisava no “tapete dos sonhos”. Era esta a regra ditada pela sua mãe. Pelo sim, pelo não, a menina escolhera seguir à risca o que lhe ensinara a velha matriarca. Antes de dormir e logo ao despertar era lá, naquele cantinho com um “quê” de feitiço e reza forte, que pousava os pés. Retalhos coloridos de fina estampa, presos a desenhar “fuxicos”, tudo bem medido e costurado. Atados: sonho por sonho.
[…]
Consta que nascera com asas. Asas quase imperceptíveis, é certo. Poucos eram aqueles que as enxergava [asas tais!]. Poucos eram os que percebiam a menina alada e as suas coisas de passarinha. Nascera com asas e somente os da sua espécie eram capazes de apreciar o seu voar [por vezes perto, noutras inalcançável]. Manter os pés fora do chão era tarefa corriqueira naqueles dias de aves raras e voos avulsos. Era do ninho que enviava o seu apelo em forma de canto. Era do ninho que desejava o indelével [re]pouso. Porque tormento de pássaro é gaiola. Porque é nos possíveis pousos [mesmo sabendo que nas asas dormita qualquer que seja o destino desejado] que reside o deleite de ter nascido assim: meio menina, meio passarinha.
CAssis, a Menina Digital
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