“[…] Advogada dos pecadores, refúgio e consolação dos aflitos e atribulados […]”. Enquanto remexia nos seus guardados, a menina lembrou-se daquele trecho de uma oração que aprendera ainda quando criança, fruto da devoção praticada dia sim, outro também, pela sua mãe. Foi enquanto revirava o seu tesouro particular – reminiscências tupiniquins – que encontrou o singelo amuleto oferecido pela velha matriarca dias antes de partir para a sua jornada transatlântica. Lembrou-se da fé que aprendera a carregar consigo desde a sua infância. Percebeu que já há muito não apelava para o auxílio de nenhuma divindade [tão cética que se tornara a menina]. Sentiu saudades. Não das orações, nem tão pouco da religiosidade que lhe fora impingida na mais tenra infância. A saudade que sentira era da fé quase palpável que costumava apreciar nos olhos da sua mãe. Percebeu um sorriso despontar tímido no seu rosto. Sentiu o seu coração ser invadido por uma paz quase transcendental. Apreciou aquele momento de plenitude, como numa espécie de ritual de fé. Tinha, então, a mente serena outra vez.
– “Fica tranquila, oh mãe, que hoje faço uma prece antes de adormecer a alma.”
E assim foi. Adormecera a menina.
CAssis, a Menina Digital
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