Sempre que me comprometo a testar e avaliar uma “camcorder”, há sempre um momento de alguma resistência e relutância em continuar esse processo . Começa usualmente quando escrevo estas linhas. Porquê? Por que a minha experiência profissional no manuseamento de objetos deste propósito, é sobremaneira superior ao uso lúdico e meramente estival deles próprios. Tenho portanto a formatada tendência para efetuar comparações dos resultados obtidos com a qualidade final, executada por custos de produção imensamente superiores. Como dizia um familiar mais velho na sua acumulada sabedoria: “quando se anda de Rolls Royce qualquer outro carro parece bicicleta com rodinhas”. Pois haveria então primeiro, que me colocar e perceber as pretensões de quem adquire, e a quem se destina esta máquina de filmar. Tarefa falhada que protelo para os términos deste texto e tal qual introdução passo a explicar porquê.
A Panasonic HC-X920 é uma câmara dirigida ao mercado semiprofissional, mercado esse que conheço também bem, e no qual por vezes me intrometo por via de restrições de orçamentos de produção já por si escassos. É sabido que este mundo é dominado pelas máquinas fotográficas Micro 4/3 e DSLR, como é caso da Lumix GH3 deste mesmo fabricante, que tem um desempenho fabuloso no que a gravar vídeo diz respeito. Julgava eu então, que os fabricantes com isso ciente tinham desistido apostar neste nicho e que teriam dado como perdida a batalha para outros produtos por si próprios fabricados, que vieram suprir aspirações no que à qualidade de imagem diz respeito e que os consumidores viam constantemente serem negadas nas “camcorders”. Impunha-se então que no mínimo a qualidade de imagem teria que ter tão bons resultados como os obtidos por essas máquinas cuja primeira função é de facto fotografar. E isso foi conseguido? Foi.
A imagem que esta máquina produz é deveras de qualidade superior. Tal é alcançado pelos 20,4 megapixels distribuídos por três sensores de luz dos quais resulta maior profundidade de cor e maior latitude de luminosidade captada, aliada à gravação em ficheiros AVCHD especificamente desenvolvido para este tipo de máquinas. O comportamento em situações de pouca luz é muito bom, o arrastamento ou “efeito gelatina” nos movimentos horizontais é quase impercetível, a soberba ajuda do nível tridimensional presente no ecrã para alinharmos com o horizonte ou outro qualquer ponto é ótimo; mas no que esta câmara é ganhadora é no balanço automático de brancos e principalmente na focagem automática, relativamente ás concorrentes fotográficas. A componente visando o amadorismo do utilizador resume-se ao á facilidade de manuseamento que resulta do tamanho, da excelente ergonomia e da simplicidade de menus. Tudo o resto tem contornos de profissionalismo e remeto-nos para isso mesmo. A qualidade do ecrã cuja visibilidade não sucumbe ao sol extremo, o “viewfinder” extensível que só não se aconselha a quem usa óculos, o anel de focagem manual, as funções wi-fi e o próprio som 5.1 oferecido pela máquina.
Se toda a componente visando o cineasta amador foi sobremaneira superada, é na componente profissional que se começa a fazer sentir as limitações de uma máquina que não pode superar um limite orçamental na produção, e correspondente preço de venda que leve os clientes visados a optar por outras soluções.
Repare o internauta. A capacidade de comunicação WI-FI oferece três funcionalidades. Uma cumpre na perfeição é a possibilidade através de uma aplicação/aplicativo para telemóvel e tablet (Panasonic Image) controlar as principais funcionalidades à distância; permitindo-lhe sair de trás da câmara e participar no soprar de velas, na brincadeira com o seu filho, ou filmar uma situação em que a consciente presença da máquina iria mudar o comportamento dos intervenientes (neste caso específico deixo ao seu bom senso o que deve ou não fazer). As outras duas também através da mesma app , comprada em separado, e que são o streaming e a função de “camara de segurança”, não tão bem. Estas estão dependentes da qualidade da ligação á internet. E se a função de deixar a câmara em casa a vigiar o seu filho enquanto passeia, regularmente verificando no seu telemóvel o estado das atividades, faz sentido embora falhe. Já os seus diretos para o Ustream (a outra das funcionalidade), esta sim enquadrada numa utilização mais profissional, levanta a questão: “será que um telemóvel com uma boa câmara integrada e ligação 4g não faria o mesmo e só precisaria de um objecto?”. Sim, faria e faz. Não espere portanto resultados bons enquanto faz o direto da prova de BTT organizada pelos seus amigos no meio do monte. Mesmo que tenha sorte de ter boa rede no seu smartphone para a qual a Panasonic HC-X920 está a transmitir, tem que pedir a todos os santos para que o operador não faça “shaping” à sua ligação móvel, nem que apareça pelo trajeto da emissão qualquer outro tipo de limitação de comunicação. Depois à características que apesar das intenções não foram devidamente acauteladas. Em termos de som o facto de ser captado em 5.1 não evidencia por si só uma maior qualidade sobretudo pelo facto de o os plásticos de construção tornarem-se percetíveis com o simples manuseamento. No exterior terá sempre que contar com o vento a ressoar nos plásticos e no próprio microfone, mesmo apoiada em tripé e mantendo a sua distancia.
Conclusão, esta máquina é sobretudo uma câmara destinada a todos aqueles que querem guardar momentos especiais, com qualidade suficiente para que daqui a uns anos não olhem com desdém à falta de qualidade do trabalho então realizado. É para amadores exigentes que não querem desperdiçar tempo a preparar a filmagem, mas sim gastar tempo a filmar. É para todos que não querem perder pitada do que se está a passar e desejam ter a garantia de que a imagem captada será sempre de muito boa qualidade. É um resultado profissional que se obtém? Não. Mas as pretensões desse profissionalismo estarão sempre evidentes mesmo com o passar dos anos. Verá sempre as suas qualidades de “Tarantino” elogiadas mesmo que o seu esforço tenha sido só o de estar de atalaia àquele momento especial que todos recordam, e querem recordar uma e outra vez.
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