2011: O ano em revista
O ano de 2011 foi fértil em acontecimentos na área da tecnologia. Pela primeira vez, pôde acompanhá-las no Tech&Net que nasceu em Fevereiro. Houve de tudo, boas e más notícias. Conheça aquelas que a equipa que produz a sua fonte de informação sobre tecnologia considera que foram as que mais se destacaram:
1. A Primavera árabe
A Primavera foi este an0 mais cedo nos países árabes. Em Janeiro e Fevereiro, revoltas populares depuseram os regimes ditatoriais na Tunísia e no Egito, começando um movimento que levou a revolta a muitos países com maior ou menor sucesso, com mais ou menos violência.
O movimento ficou conhecido como Primavera Árabe e o que o distingue de todos os movimentos de protesto, revoltas e revoluções até então foi a utilização das redes sociais para organizar os protestos e para os difundir. Já na Tunísia o Facebook e o Twitter tiveram um papel importante na mobilização, mas foi no Egito que os jovens utilizaram as redes sociais mais intensamente, demonstrando haver outros caminhos de futuro que não a ditadura e o fundamentalismo.
Sem o Twitter e o Facebook é provável que os protestos na Praça Tahrir não tivessem vingado. O efeito viral da informação que os manifestantes iam colocando ajudou à mobilização e tornou a revolta conhecida em todo o mundo, obrigando as potências mundiais a fazer pressão sobre o regime egípcio.
Com a Primavera Árabe, as redes sociais ganharam uma dimensão de ferramenta de serviço público que ainda não tinham conhecido até então. Pelo seu alcance e por ter contribuído para mudar o futuro de povos.
2. A morte de Steve Jobs
Steve Jobs foi um dos poucos homens que se poder dizer ter tido uma influência decisiva na vida de milhões de pessoas. Com os produtos lançados pela Apple tornou primeiro o computador um objeto pessoal e depois revolucionou a forma como interagimos em rede, criou novas categorias de produtos e novas necessidades nos consumidores.
O mundo digital é hoje o que conhecemos porque teve o toque de génio de Steve jobs. Aquando da sua morte, líderes mundiais e os seus pares não pouparam em adjetivos nem em comparações: Visionário e génio foram as palavras mais ouvidas, tendo sido comparado a Thomas Edison, Henry Ford e – mesmo – a Albert Einstein. Como sempre, foram excessivos nos elogios.
Mas mais do que o génio criativo, foi a capacidade de antever e de criar necessidades que tornou a pegada de Jobs na indústria verdadeiramente indelével.
A Apple apresentou o primeiro computador com interface gráfico, o primeiro computador com teclado, o primeiro leitor de músicas online, o primeiro smarthone com tela/ecrã tátil, o primeiro tablet.
Só esta lista é bem demonstrativa dos gigantes passos que a companhia conseguiu. Mas, ao invés do que se possa pensar, estas não foram invenções disruptivas da equipa de Jobs. O primeiro PC baseado num micro-processador não foi o Apple II, mas sim o Micral N e o MITS Altair; O rato foi desenvolvido pelo centro de pesquisas da Xerox; O Nomad foi o primeiro leitor de música digital; O primeiro tablet foi lançado pela Microsoft oito anos antes do iPad.
Então porque é que se diz que jobs revolucionou a indústria e desempenhou um papel fundamental na revolução digital? Simplesmente porque teve a sensibilidade e a visão de criar produtos apetecíveis para os consumidores. Porque foi o primeiro a perceber que a indústria tecnológica deveria ser focada no consumidor. Parece pouco, mas foi revolucionário.
Como afirmou Jonh Cassidy, da revista New Yorker, o Apple Macintosh foi o primeiro PC “que não parecia pertencer à cave de um centro científico de um campus rodeado de livros de matemática e de caixas de pizza usadas”.
Antes de ninguém, Jobs teve o arrojo de aliar o design às caraterísticas técnicas e de criar produtos pensados para o consumidor, feitos a pensar na experiência do usuário. Jobs foi fundamentalmente um brilhante marketeer. Há um episódio que o ilustra, quando insistiu para que o Apple II tivesse uma pega no monitor. É evidente que ninguém o iria transportar de um lado para o outro, uma vez que não era um portátil, mas marcava a diferença e começava a criar uma necessidade.
E esse é outro dos legados de Jobs, o de pensar não como um engenheiro puro e duro mas conseguindo colocar-se do lado do consumidor. Jobs não se contentava com produtos que funcionassem, queria produtos que correspondessem tecnicamente às expetativas e que fossem bonitos e de fácil utilização.
A criação da linha i permitiu à Apple dar o salto e tornar-se a marca mais importante do mundo. Jobs maravilhou o mundo e angariou uma legião de adeptos incondicionais quando apresentou o Imac, um computador de design original e em que predominava a cor na caixa. Foi o primeiro computador cool, o primeiro PC que era simultaneamente uma afirmação de quem o possuísse. “Sou diferente!”
Muito se tem escrito neste últimos meses sobre o legado de Jobs, sobre a sua importância na indústria, sobre a sua filosofia e, até, sobre a sua obsessão pelo controlo. Seja-se um adepto ou um detrator de Steve Jobs, a verdade é que o rosto da Apple não deixa ninguém indiferente. A verdade é que é um homem que deixou uma pegada decisiva na revolução digital. A verdade é que é um ícone da indústria.
3. Os ciberataques
O ano de 2011 viu os ciberataques ganharem uma expressão nunca antes vista e com motivações muito diferentes. Os grupos de ativistas tornaram-se mais organizados e conseguiram ter mais projeção que nunca. Mas também os criminosos conseguiram êxitos únicos.
Grupos de ativistas como os Anonimous saltaram para as primeiras páginas de todo o mundo ao conseguirem coordenar ataques de negação de serviço contra empresas e governos de todo o mundo. Pela primeira vez, Portugal e Brasil viram este tipo de ativismo tornar impossível o acesso a páginas governamentais ou ligadas ao poder.
O ciberativistmo foi um fenómeno que explodiu durante o ano e a comunidade em rede tomou consciência que não mais pode passar ao lado das lutas destes ativistas. Independentemente das suas motivações, o ciberativismo saiu dos seus esconderijos para dizer presente e revelar-se um fenómeno à escala planetária e com repercursões para lá da rede. Foram uns dos vencedores do ano.
Mas não só os ciberativistas ganharam projeção. Os cibercriminosos também tiveram um ano em cheio, mudando de agulha na sua forma de agir. O spam já não é a sua ferramenta preferida e enquanto apontam bateriais para os dispositivos móveis, conseguiram aquele que é o maior roubo de sempre online.
Mais de 70 milhões de usuários dos serviços de entretenimento online da Sony viram os seus dados pessoais roubados, numa operação executada com maestria e que provocou um rombo gigantesco na credibilidade da companhia nipónica, que foi obrigada a retirar do ar os seus serviços durante mais de um mês.
A conetividade e a proliferação dos dispositivos móveis obriga a que os usuários tenham uma alteração dos seus hábitos. Os smartphones não são apenas telefones, são verdadeiros computadores e como os PC devem ser protegidos pelos seus proprietários.
4. A guerra Apple / Samsung
No início do ano nada fazia prever que a Samsung se tornaria um dos players mais importantes do mercado mobile, mas a verdade é que a marca coreana conseguiu fazer o smartphone do ano. E como se não bastassse, disponibilizou ao público aquele que foi o primeiro tablet a combater olhos nos olhos com o iPad.
A Apple viu nos produtos da Samsung um ataque à sua supremacia e lançou uma ofensiva a nível global para impedir a venda dos dispositivos da marca coreana. O primeiro processo aconteceu na Austrália, mas rapidamente a luta judicial se tornou global.
Os primeiros rounds deste combate foram favoráveis à Apple, mas no final do ano a Samsung começou a ganhar e a poder comercializar os seus produtos em vários mercados. Mas a luta está muito longe do final e nestes primeiros episódios nem sequer foi discutida a questão de fundo.
E o que está em causa é a afirmação da Apple de que os novos smartphone e tablet Galaxy da Samsung são uma cópia dos dispositivos da marca fundada por Steve Jobs. A Samsung não se limitou a defender nestes processos e acusou a Apple de também ter copiado tecnologia implementada por si.
Verdadeiramente, Apple e Samsung não se digladiam por questões de direitos. O seu verdadeiro combate é pela hegemonia do mercado mobile. Até este ano, a Apple não tinha um competidor à altura mas a ofensiva da Samsung foi avassaladora e o que mais preocupa a companhia de Cupertino é o fato de pela primeira vez haver outra marca que está a conseguir criar uma relação de fidelidade com os consumidores.
A guerra judicial Apple / Samsung ainda está no adro e dos seus resultados vai depender em muito o futuro da indústria mobile.
5. A chegada dos círculos
Quando em Junho a Google lançou o projeto Google Plus percebeu-se que desta vez a empresa parecia ter acertado. O G+ não era igual ao Twitter nem ao Facebook mas agregava o que de melhor têm estas redes sociais e rapidamente se tornou num sucesso.
O crescimento do G+ é um caso de sucesso único no mundo das redes sociais, tendo atingido já 65 milhões de usuários, um número que o Facebook levou anos a conseguir.
Só em Setembro é que o projeto Google Plus se tornou aberto. Até então só por convite se entrava e o Tech&Net permitiu que centenas experimentassem e usufruíssem da nova rede social que trouxe a inovação na forma de partilha e no controle de privacidade por parte dos seus membros.
Mas a grande diferença está na forma como as pessoas se relacionam entre si. Enquanto que na rede social de Mark Zuckerberg partimos dos contatos da vida real para partilhar conteúdos, no G+ são os conteúdos que nos fazem criar relacionamentos.
A revolução do G+ é muito mais profunda do que pode parecer à primeira vista. Depois de constatar o sucesso da rede, a Google avançou para uma verdadeira revolução extinguindo serviços que não tinham descolado e tornando todos os outros totalmente integrados e tendo como elemento agregador o G+.
Analistas há que dizem que no final do próximo ano de 2012 o Google Plus terá 650 milhões de usuários e começará a fazer frente ao Facebook. A estimativa poderá ser otimista, mas foi o próprio Sergey Brin quem afirmou que o objetivo da companhia era o bilhão de pessoas que utilizam o Gmail. E com a integração de serviços e a imposição do Android como o SO mais utilizado em dispositivos móveis, a Google pode estar a caminho de uma vitória esmagadora sobre a concorrência.
6. Parceria Nokia-Microsoft
A Nokia e a Microsoft surpreenderam em Fevereiro ao anunciar uma parceria estratégica para a implementação de modelos com o SO Windos Phone.
2010 tinha sido um ano negro para a Nokia. O gigante finlandês perdera definitivamente o título de principal fabricante mundial de celulares/telemóveis com a migração dos consumidores para os smartphones. Refém de um SO ultrapassado, o Symbian, a Nokia não conseguia ser competitiva num mercado em crescimento extraordinário e virou-se para a Microsoft, que no final do ano tinha mostrado ao mundo o seu SO para dispositivos móveis.
Este casamento foi feito “contra o duopólio” nos sistemas mobile. Microsoft e Nokia queriam fazer do Windows Phone um sistema que lutasse de igual para igual com o iOS da Apple e com o Android da Google. A Microsoft tinha construído um sistema muito mais amigo do utilizador do que os seus competidores, mas faltava-lhe escala. A Nokia continuava a fabricar bons aparelhos, mas não tinha software à altura.
A parceria estratégica entre os dois gigantes vinha resolver o problema de cada um deles e criar um competidor à altura no mercado mundial, mas só no final do ano é que os consumidores dos principais mercados puderam ver o resultado deste esforço com o lançamento do Lumia.
Ainda é cedo para se saber se Nokia e Microsoft conseguem transformar a sua parceria num ponto de viragem de um mercado cada vez mais dominado pelos dispositivos Android ou se o acordo chegou tarde demais. E se tal aconteceu, qual das duas companhias perderá mais.
Só o futuro o dirá e 2012 será um ano decisivo.
Comentários