Review Samsung HMX-Q10BP/EDC
Quando recebi em mãos esta câmara de vídeo (filmadora), devo dizer que tive uma primeira impressão muito positiva. Principalmente pelo design sóbrio, pelas suas pequenas dimensões e pelo preço. Mas já aprendi a não dar grande relevância às primeiras impressões, estas geram falsas expectativas e a consequente frustração de as ver goradas.
Comecemos então por vos descrever a algumas das características da máquina que são também bandeiras de promoção deste modelo: um zoom digital de 20x (10x óptico); um modo navegação pelos menus de um só botão físico; dupla estabilização da imagem; inversão da câmara em 180º para facilitar a vida a quem é canhoto; e um sensor CMOS de alta sensibilidade que pelos vistos é uma maravilha em condições de pouca luz.
O que me intrigou logo de inicio foi aquilo que torna único esta série de modelos da SAMSUNG: o facto de ter sido feita a pensar nesses, tantas vezes discriminados e ostracizados esquerdinos que necessitavam de ver as suas pretensões de ter uma câmara feita a pensar neles, ou nem por isso… Pedi então a um esquerdino que por sinal é também operador de câmara para me dar a sua opinião, e logo fiquei de sobressalto porque pegou no objecto exactamente como nós destros dominantes, e fez e desfez comentários muito positivos quanto ao design e ergonomia, a estabilidade que sentia quando a operava, e posicionamento dos botões. Mostrei-lhe então esta função de poder virar a máquina de “pernas para o ar” para poder ser adaptada às suas naturais aptidões físicas e pedi-lhe segunda opinião. Experimentou, olhou, e no fim fez a ressalva
de ele porventura não ser a melhor pessoa para fazer aquela análise, precisamente porque trabalha com diversas câmaras todos os dias e já está habituado a trabalhar da mesma forma que eu, ou qualquer outro destro opera. Fracassado na minha escolha de um esquerdino, quis ainda assim registar a descrição do seu desconforto no uso da máquina: “Quando coloquei a câmara invertida na minha mão direita fiquei com o acesso dificultado ao botão de abertura da cobertura da lente. A rosca de aperto do tripé também ficou virada para cima o que, além de me incomodar um pouco deixa de fazer sentido que exista esta função, porque a máquina só pode ser usada no modo “destro” quando colocada em um qualquer suporte”. Apesar de válidas estas opiniões tinham que ser corroboradas por mais uns quantos sestros . E após obter a apreciação de pessoas dos diferentes quadrantes etários, laborais, e acima de tudo, diferentes graus de experiência com câmaras (alguns no grau zero…). Concluí que se você, internauta, fizer parte dessa minoria de 12 a 15 porcento, esta não é razão para comprar esta máquina.
Esta estratégia de concepção foi na minha opinião, um erro. Porque a norma no uso deste produto, apesar de não regulamentada está estabelecida. Uma das pessoas a quem pedi o parecer, e a quem tive o propósito de apresentar a filmadora já invertida e preparada para um natural esquerdino, virou-a e começou a utilizá-la da mesma forma que eu e outro qualquer de vocês usa e usará. Perguntem a um Brasileiro que seja sinistro e que já tenha estado no Suriname, se conduz melhor lá do que no Brasil, simplesmente porque os carros têm a caixa de velocidades do lado contrário e o sentido de marcha é oposto. Perguntem o mesmo a um Angolano, que vá a África Do Sul, ou a um qualquer Europeu que vá ao Reino Unido. A sua resposta é maioritariamente esta: “ É uma questão de hábito”.
Analisemos os restantes aspectos da câmara. Quando colocámos a câmara na mão e abrimos o ecrã para o lado para nos prepararmos para usar a máquina reparamos que ela liga-se, aliás não há outra forma de ligar ou desligar a máquina, o que me faz pensar se ela não estará constantemente em simples modo de espera gastando assim mais energia do que a necessária (creio que neste ponto a filosofia propagandeada na embalagem de um botão um toque para controlar a máquina imperou, apesar de mesmo isto ser discutível). No ecrã aparece logo um aviso para verificar se a cobertura da lente se encontra
aberta ou fechada, independentemente de estar ou não. Ou seja, para abrir e fechar a cobertura da lente, temos de usar mais um botão.
O menu é de simples funcionamento e muito intuitivo, os ícones são de imediata compreensão e a resposta ao toque é muito precisa mesmo para dedos grossos. Estão sempre presentes os botões de acesso ao zoom, do leitor de vídeo e dos modos fotografia ou vídeo. Está também sempre presente no ecrã, os comuns indicadores de carga da bateria, a resolução de vídeo ou fotografia, a disponibilidade do cartão de memória em tempo vídeo e das restantes fotografias possíveis, e também o indicador de modo de operação que facilmente se confunde com um ícone de função, função essa reservada para o tal elogiado botão único. Temos então do lado do ecrã um simples botão com uma casa desenhada para aceder a um segundo menu no ecrã, menu esse que nos deixa escolher entre os modos: automático, manual, artístico, álbum e opções de ajuste. Era mesmo necessário este botão? Não poderia ter ficado tudo no ecrã? Na minha opinião podia e devia. O ecrã tem espaço e não ficaria comprometida a visualização do que estamos a filmar ou fotografar. Ter um botão físico que só serve para alternar entre dois menus parece-me descabido, e falar nele como valor acrescido da máquina também.
O modo automático (Smart Auto), faz isso mesmo a que se propõe, ou seja faz tudo por si. A escolha dos parâmetros da máquina para a respectiva imagem a captar é a melhor e de resposta imediata. O ícone vai mudando conforme o que está a querer filmar e a câmara parece adivinhar, se é de dia ou noite, se está a tirar um retrato ou a filmar uma paisagem, se o dia está solarengo ou cinzento. E isto resulta na melhor imagem possível que pode tirar neste aparelho. O Modo Manual permite-lhe ajustar o equilíbrio de brancos e o valor de exposição e uma opção para quando está a filmar ou fotografar em contraluz. Exclusivo de quando está a filmar é o facto de poder alternar entre focagem automática ou manual, e entre 2 parâmetros de sensibilidade do sensor para condições de pouca luz. Na fotografia acresce as funções de disparo contínuo e temporização do mesmo. O modo artístico
dá-nos os tradicionais efeitos de imagem: preto e branco; sépia; negativo; pintura; filme negro; farwest; encantado e fantasmagórico, sendo este último exclusivo do vídeo. Acrescenta também ao video a possibilidade de “fading” e “time-lapse”. No que á imagem diz concerne, é-nos permitido ainda escolher a resolução de vídeo (FULL HD 1080/50i; HD 720/50p; SD 576/50p) e de fotografia ( 2944X1656 4.9M; 1920X1080 2M), a estabilização de imagem e o ligar ou desligar o zoom digital.
Tanto no filme como na fotografia esta câmara desilude no que à qualidade da imagem apresentada diz respeito. Apesar de no vídeo a resposta do sensor ser rápida o suficiente para os problemas de “rolling shutter” (efeito de gelatina que acontece na imagem quando se move a câmara na horizontal (“paning”), mais visível quanto maior a velocidade) não se notarem, a definição tanto no vídeo como na fotografia são más. Nem o “motion blur” natural do vídeo esconde uma imagem que parece pintura a óleo ou guache. É de veras frustrante a qualidade de imagem que esta câmara proporciona. Se este efeito é visível nas imagens de boa exposição, nas condições de pouca luz o problema passa a ser o ruído gerado que é por demais evidente apesar do anunciado sensor de alta sensibilidade (BSI CMOS). Além disto acresce o frequente hábito de, com a pressa que temos por vezes, de carregar no botão de filmar/disparo não estando a máquina na horizontal, o que faz a máquina “pensar” que está nas mãos de um esquerdino, filmando portanto como se a máquina estivesse virada para o lado oposto. Resultado vai acabar por ver o seu video apresentado do avesso. Algo que aconteceu algumas vezes.
O preço no Brasil para esta filmadora começa nos 565 R$ (245€) e em Portugal nos 195€ (450 R$). Se estes preços lhe parecem acessíveis, então você tem a “carteira recheada”. Nada paga aquele momento que você quer recordar para a vida, e mostrar para netos e bisnetos. E para esses momentos você deve exigir um mínimo de qualidade que, definitivamente esta câmara não oferece. A disponibilidade de oferta nos dois lados do atlântico para o que este produto se propõe a fazer é abundante até neste valor monetário. Sendo assim, recomendo que por este preço invista numa máquina fotográfica que faça vídeo de alta definição, em vez de comprar uma filmadora que faça fotografia. Ficará melhor servido. Há vários modelos de máquinas fotográficas a rondar os 200€/460 R$ que fazem muito melhor video FullHD como sejam a Olympus sz-20, a Fujifilm Finepix S3400HD, ou a Nikon Coolpix S8100, e mesmo alguns modelos fotográficos compactos que só fazem 720P HD como a Samsung WB210, têm a oferecer melhor qualidade de video . As capacidades que estas câmaras fotográficas têm a nível de fotografia são em grande parte transpostas para o seu modo vídeo deixando com que este produto que a Samsung nos apresenta deixe de fazer sentido. Em entrevista a uma publicação francesa da especialidade o fotógrafo Chase Jarvis disse o seguinte a propósito das DSLR de entrada de gama estarem apetrechadas de funcionalidades profissionais: ”Quando o carro tem mau motor e anda mal ou não anda de todo; não vão ser as jantes de liga leve, nem os estofos em pele aquecidos que o vão pôr a andar”. Esta Samsung HMX-Q10BP/EDC é uma desilusão na construção da imagem vídeo que nos apresenta e nem que tivesse o dobro de filtros artísticos e outras mais funções isso melhoraria.
Gustavo Faria
O Tech&Net agradece a colaboração da Samsung
Comentários