O pânico está a instalar-se na Nokia. O gigante finlandês anunciou que os seus resultados iriam ficar aquém do esperado e o mercado não demorou a reagir, com as acções a perderem 22 por cento em apenas uma semana. Em apenas dois anos, a Nokia passou de líder incontestado nos dispositivos móveis a empresa que se obriga a golpes de rins para sobreviver.
A revolução dos smartphones foi o canto do cisne para a Nokia. Produtora de celulares/telemóveis de incontestável qualidade, a marca não percebeu a tempo que com os novos dispositivos portáteis era a experiência que os usuários tinham que fazia a diferença. Dito por outras palavras, não percebeu com a rapidez suficiente que o foco dos consumidores passava a estar no software e não no hardware.
O sistema operacional/operativo da Nokia é considerado por muitos obsoleto, e nem a atualização anunciada a 12 de Abril parece convencer. Com o Android a arrasar a concorrência e a Apple a manter-se firme, a Nokia dá sinais de não saber exatamente que caminho trilhar. Menos de um mês depois do anúncio do Symbian Anna, Stephen Elop, o CEO da Nokia, afirmava que o investimento no sistema nativo da marca finlandesa e o suporte iria continuar até 2016.
Numa tentativa de inverter a quebra de quota de mercado, a Nokia juntou-se à Microsoft numa parceria estratégica que torna o Windows Phone como o produto por excelência da empresa. Os primeiros já estão a ser testados em laboratório e estarão disponíveis no início de 2012. Mas virá a tempo? A empresa que já valeu 300 bilhões de dólares hoje é avaliada em 25,6 bilhões de dólares.
Uma semana infernal
Na terça-feira da semana passada, a Nokia advertia que os seus resultados no segundo trimestre virão a a ser “substancialmente abaixo” dos esperados 6,1 a 6,6 bilhões de dólares e que, por isso, não iria estabelecer metas anuais para 2011. “As transições estratégicas são difíceis. Reconhecemos a necessidade de entregar grandes produtos móveis e, portanto, temos de acelerar o ritmo da transição”, disse Stephen Elop, presidente e CEO da Nokia. “As nossas equipes estão unidas etemos mais confiança de que vamos ter o nosso primeiro equipamento da Nokia com o Windows Phone no quarto trimestre de 2011.”
Os mercados reagiram imediatamente, com as acções da companhia finlandesa a despenhar-se para valores iguais aos de 1998. A desvalorização em cadeia atingiu os 22 por cento no fim-de-semana, com cada papel da Nokia a valer 4,48 euros.
Tudo no mesmo cesto
No próprio comunicado em que diz que não faz mais previsões para 2011, a empresa finlandesa põe todos os ovos na mesma cesta, fazendo do Windows Phone a tábua de salvação para um ano horrível que pode ditar o final do domínio da marca.
Stephen Elop é claro quando afirma que a parceria com a Microsoft anunciada em Fevereiro tem como objetivo fazer da guerra pelo mercado dos smartphones uma “luta a três”. Como então escrevemos, o grande beneficiado desta parceria é a Microsoft, que ganha escala no mercado. Mas para a Nokia esta bem pode ser uma questão de vida ou de morte.
O Symbian continua, mas através da Accenture, que será responsável pelo sistema operacional/operativo em regime de outsourcing. A Nokia aposta tudo na nova geração do Windows Phone, o Mango. Mas com a HTC e a Samsung a crescerem no mercado com a aposta em aparelhos poderosos com o Android.
O que dizem os analistas
Ou se adapta ou morre. Pode ser resumida assim a opinião dos analistas, para quem a parceria estratégica entre a Nokia e a Microsoft é mesmo a tábua de salvação para a empresa finlandesa. Vários estudos apontam para que o Windows Phone venha a ter a quota de mercado em 2015 que atualmente é ocupada pelo Symbian da Nokia.
Mas isto não quer dizer que haja uma transferência direta, uma vez que são vários os fabricantes que fazem dispositivos para o Windows Phone. A Microsoft anunciou que o seu sistema operacional/operativo ia ser utilizado por novas marcas.
Com o mercado dos smartphones a crescer ao impressionante ritmo de 58 por cento este ano e de 33 por cento no próximo ano, HTC e Samsung estão a ser os principais beneficiários deste boom e da alteração dos hábitos dos usuários. A Nokia ainda é quem vende mais celulares/telemóveis, mas fundamentalmente na gama baixa.
Fim de ciclo?
São dois os cenários que analistas e especialistas colocam em cima da mesa se a Nokia não conseguir superar a grave crise que enfrenta e que faz de 2011 o seu pior ano desde que se tornou num player mundial nas comunicações móveis.
O primeiro dos cenários foi lançado por Eldar Murtazin, um blogger russo, que afirma terem a Microsoft e a Nokia encetado conversações para a compra da divisão móvel da companhia finlandesa por um valor de 19 bilhões de dólares. Murtazin é um homem bem informado sobre o que se passa nos bastidores da Nokia, tendo noticiado em Dezembro a parceria estratégica que Ballmer e Elop anunciaram em Fevereiro. Foi também ele o primeiro a dizer que a empresa ia acabar com a marca OVI, de aplicativos, e juntar tudo sobre o chapéu Nokia.
O segundo cenário é mais radical e são os analistas de mercado que o colocam: a Nokia está a pôr-se a jeito para ser desmembrada. De acordo com a agência financeira Bloomberg, o cenário de uma aquisição hostil não está fora de equação. E isto porque – dizem os especialistas – as várias áreas de negócio da Nokia valem mais do que a empresa em si. A soma das partes é maior do que o todo. Se vendidas em separado, as áreas de negócio valeriam mais 52 por cento do que o valor atual da Nokia, calculado em 25,6 bilhões.
Os protagonistas
Stephen Elop
O canadiano Stephen Elop, de 48 anos, assumiu a presidência da Nokia em Setembro de 2010, vindo da Microsoft, tendo aproveitado o bom entendimento com a empresa fundada por Gates para fazer a parceria estratégica. Antes da Microsoft, tinha ocupado cargos na Juniper Networks, Adobe e Macromedia. É engenheiro informático e tem formação em gestão.
Nokia
Fundada em 1865, estabelece-se durante quase um século como produtora de cabos e de borracha. É a partir de 1960 que começa a mudar de negócio, com o primeiro departamento de venda de computadores. Em 1968, com a criação da Nokia Corporation, dá-se o salto para as comunicações móveis e em 1981 fabrica a primeira rede de telefones móveis do mundo. Em 1998 torna-se líder do mercado.
Steve Ballmer
Steve Ballmer é um homem da casa. Com 54 anos, está há 30 anos na Microsoft, tendo assumido a presidência em 2000 quando Bill Gates decidiu dedicar-se à sua fundação. Tem seguido uma estratégia agressiva, como o prova a aquisição do Skype e a parceria com a Nokia. É um profundo conhecedor da história, cultura e estratégia da Microsoft.
Ainda irá a Nokia a tempo de inverter a tendência e voltar a assegurar um papel de relevo no mercado dos smartphones? Será o seu destino ser vendida em partes e desaparecer?
E você, qual acha que será o futuro da Nokia? Dê-nos a sua opinião!
.
Comentários