O Nordeste do Japão é hoje uma zona devastada pelo sismo de 9.0 e consequente tsunami e em alerta nuclear. No resto do país, as atenções estão voltadas para os problemas nos seis reatores da central nuclear. A apenas 250 quilómetros, a megalópole Tóquio, de 36 milhões de habitantes, é uma cidade em que o medo da morte silenciosa da radiação tira as pessoas das ruas.
O Japão é o maior produtor mundial de componentes eletrónicos e o terramoto pode ter consequências globais. No final do mês podem começar a faltar componentes.
AP Photo/Kyodo News
A indústria japonesa foi afetada seriamente pela catástrofe de dia 11. Várias grandes empresas sofreram danos nas suas fábricas ou viram-se obrigadas a suspender a produção devido a problemas ao nível das infraestruturas. E quando escrevemos ainda não é conhecida a gravidade, a extensão e as consequências do acidente nuclear de Fukushima.
Kim Kyung-Hoon/REUTERS
Neste momento, as atenções estão centradas na destruição causada pela catástrofe, mas os analistas estão já a olhar para o futuro imediato e para as consequências que o desastre no Japão pode ter para a indústria eletrónica mundial.
A iSuppli afirma que vão começar a faltar componentes dentro de duas a três semanas. Sessenta por cento do silício extraído no mundo é proveniente do arquipélago nipónico e o Japão é responsável por 40 por cento da indústria de componentes para eletrónica e audiovisual a nível global.
Esta empresa especialista em pesquisa de mercados salienta que aliando à falta de componentes, estes produtos vão ter “aumentos de preço dramáticos”. Um exemplo é o das memórias flash NAND de 16 gigabites que já registaram uma subida na ordem dos 12,5% desde o dia 11 de março.
As baterias de silício que atualmente equipam todos os dispositivos móveis, desde os tablets aos laptop, passando pelos smartphones ou celulares/telemóveis serão dos primeiros produtos a registarem problemas de stock a nível global, de acordo com o Daiwa Securities Goup Inc, citado pela Bloomberg.
AP Photo/Koji Sasahara
Mas não só. O abastecimento dos chips semicondutores pode ser afetado devido a uma diminuição brusca da entrega de silício. Também poderá haver problemas quanto às memórias Flash e DRAM, aos micro-controladores , ecrãs e componentes LCD e pequenos transmissores de sinal
Muitas companhias viram-se obrigadas a suspender a produção por várias das suas instalações terem sofrido danos devido ao terramoto ou ao tsunami, mas a maioria das instalações fabris não foi diretamente atingida por se localizar no sul do Japão.
A Hitachi vive um dos problemas mais complexos, com várias instalações situadas na zona de evacuação decretada em Fukushima por causa do acidente nuclear. Nestas fábricas são produzidos ecrãs para as consolas Nintendo DS e para os aparelhos da LG Electronics. A Hitachi tem uma quota de 50 por cento do mercado de ânodos.
A Toshiba viu-se obrigada a parar a produção da fábrica de sensores de imagem CMOS que equipam os dispositivos da Nokia. As instalações da Texas Instruments que fabricam componentes para a tecnologia de projeção DLP sofreram “danos substanciais” e a produção só será retomada parcialmente em maio.
Também a Panasonic viu interrompida a produção dos ecrãs de LCD de última geração e a FujiFilm a de componentes para esta tecnologia.
Por seu turno, a Sony viu-se obrigada a parar a produção de baterias de lítio em 6 fábricas e a Seiko Epson teve de interromper a laboração em 4 instalações, mas como tem fábricas espalhadas globalmente não deverá ter problemas em satisfazer as encomendas.
Por último, a Canon teve de parar a produção de LCD, lentes e impressoras em três fábricas.
Mas não é apenas na zona que sofreu o maior impacto do sismo e do tsunami que a indústria nipónica está com problemas. Com a eletricidade a ter cortes recorrentes, as empresas não podem pôr em funcionamento as suas linhas de produção e as rotas de abastecimento de matérias-primas e de escoamento dos produtos estão paralisadas em praticamente todo o país.
Indústria apoia Japão
Independentemente dos problemas com que se debate, a indústria eletrónica mundial está a reagir a avançar com verbas para apoiar a reconstrução do Japão, tendo já recolhido biliões de dólares de apoio.
Estão neste lote algumas das empresas que sofreram diretamente as consequências do sismo, como a Sony (3,744 milhões de dólares), a Seiko Epson (1,252 milhões) ou a Texas Instruments (250.000 doláres).
A Ricoh Company disponibilzou cerca de 3,629 milhões de dólares e tomou medidas de redução do consumo de eletricidade no Japão. Jorge Silva, Director de Marketing da Ricoh Portugal afirma: “Neste terrível momento para o povo Japonês, os nossos corações devem estar com todos os que perderam familiares e amigos. Só no Japão, a Ricoh possui 41.000 colaboradores e por isso é nossa preocupação especial acompanhar todas as suas necessidades. Neste momento estamos a avaliar os meios com que podemos contribuir para a sociedade e para a continuidade da actividade do grupo Ricoh. Algumas das nossas instalações ficam situadas nas zonas afectadas e em consequência disso estamos a avaliar as medidas que visem activar os planos de contingência adequados. A Ricoh seguirá na íntegra as recomendações das autoridades Japonesas.”
Também a Microsoft doou 250 mil dólares em dinheiro e o equivalente a 1,75 milhões de dólares em serviços e software, fundamentalmente para permitir às empresas a recuperação de serviços e licenças de software, para que se possam reerguer depois desta tragédia.
Comentários