Em setembro de 2014, cientistas anunciaram o desenvolvimento de um sistema capaz de restaurar o movimento das patas traseiras de ratos paralíticos. O projeto, denominado NEUWalk, consistia no uso de uma corrente elétrica para estimular as danificadas medulas espinhais dos roedores.
Hoje, o sistema está um passo mais próximo de ser testado em humanos, pois os pesquisadores da Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça, responsáveis pelo NEUWalk, criaram um dispositivo flexível implantado sob uma membrana que recobre o cérebro e a medula, a dura-máter (nome derivado do latim “mãe resistente”). O aparelho foi desenvolvido para se integrar ao sistema nervoso do paciente, evitando rejeição e inflamações.
Longa duração
A paralisia dos membros ocorre quando uma lesão na medula espinhal provoca a perda de comunicação entre o cérebro e as regiões da medula situadas abaixo do ferimento. Sem receberem a frequência correta de impulsos eletroquímicos direcionada pelo cérebro, os neurônios da medula, que coordenam o movimento nos músculos dos membros, simplesmente não interpretam a mensagem enviada pelo cérebro.
O implante, chamado de e-Dura, possui propriedades mecânicas que facilitam sua integração com o tecido que o rodeia. Sua flexibilidade e elasticidade se adaptam bem à região do implante, o que reduz o risco de inflamação e fricção, especialmente em comparação a implantes rígidos, cuja fricção pode inflamar o tecido ao redor, prejudicando a qualidade da (senão impedindo a) transmissão de impulsos nervosos.
Composto por silicone e condutores elétricos de ouro capazes de se esticar em conformidade com o silicone flexível, o e-Dura ainda conta com um novo conceito em eletrodos: microesferas móveis de platina e, também, silicone. Movendo-se pelos condutores, os eletrodos podem dirigir a corrente elétrica para a medula espinhal, além de injetar substâncias neurotransmissoras nas células nervosas localizadas abaixo do ponto lesionado, reativando-as.
Nos experimentos com ratos, a equipe de pesquisadores apurou que, mesmo 2 meses após o implante, os animais conseguiram caminham com as patas traseiras sem que quaisquer danos tenham sido causados ao tecido na região do implante. Também não foi registrada rejeição ao dispositivo.
Para Stéphanie Lacour, coautora do estudo, publicado na revista Science, os achados devem beneficiar principalmente as pessoas que perderam a locomoção devido a lesões na medula espinhal, bem como pacientes de outros distúrbios neurológicos traumáticos. Ela destaca a longa duração do implante no organismo, graças às propriedades mecânicas previamente mencionadas, semelhantes às da dura-máter.
Testes em humanos estão programados para junho deste ano no Hospital Universitário de Lausanne, em um aparelho chamado de Plataforma Gait, no qual o paciente caminhará em uma esteira com o auxílio de uma estrutura de suportes, instrumento que em muito se assemelha ao empregado nos testes com roedores (imagem acima).
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