Em 2015, o Telescópio Espacial Hubble completa 25 anos na órbita da Terra. Durante esse tempo, as imagens capturadas pelo telescópio, operado em parceria entre as agências espaciais NASA e ESA, fascinaram e inspiraram toda uma geração de cientistas e entusiastas da ciência, em particular, da astronomia.
Entre as imagens mais icônicas já obtidas pelo Hubble, destaca-se a dos Pilares da Criação, enormes colunas de gás e poeira localizadas na Nebulosa da Águia (também conhecida como Messier 16) que receberam esse por constituírem um ambiente de intenso nascimento de estrelas.
Capturada em 1995, a imagem (abaixo) se tornou popular, tendo aparecido em programas de televisão e selos dos correios, por exemplo. Além do apelo fotogênico, um de seus atributos fundamentais foi o de possibilitar a visualização de detalhes inéditos das colunas. Agora, eis que o Hubble prova que está em forma, e volta a surpreender revisitando os Pilares da Criação através do uso de uma câmera mais moderna, a Wide Field Camera 3, instalada em 2009.
Além do nível muito maior de detalhamento em luz visível, o telescópio brindou a comunidade científica com uma visão da luz infravermelha da estrutura, tornando as colunas (regiões relativamente comuns de formação de estrelas por todo o universo, é verdade) ainda mais atrativas sob os pontos de vista científico e — por que não? — estético/artístico.
A observação no espectro infravermelho é capaz de penetrar boa parte da poeira escura que envolve as colunas, revelando jovens estrelas formadas nos pilares de gás, mas que se escondem à luz visível.
Ademais, a imagem recente deixa mais claro o viés destruidor dos Pilares da Criação: os gases e a poeira das colunas são superaquecidos pela radiação emitida pelas novas estrelas e degradados pela ação dos ventos estelares de estrelas muito maciças situadas na região da nebulosa, sendo expelidos dos pilares.
A interação entre o material aquecido e a radiação pode ser vista na imagem a seguir através do tom azulado que contorna as áreas de gás e poeira mais densos na imagem em luz visível. Ainda é possível visualizar que, no topo do pilar mais à esquerda, uma grande porção do gás aquecido está se separando da estrutura.
Cabe lembrar, entretanto, que as mesmas estrelas que expulsam o gás das colunas são as que permitem as observações do Hubble, uma vez que sua luz ultravioleta ilumina e dá brilho às nuvens de hidrogênio, oxigênio e enxofre da região.
Sob a luz infravermelha, o espetáculo adquire uma feição fantasmagórica devido ao contraste entre a escuridão da poeira e a “névoa” azul (imagem abaixo).
Infelizmente, os Pilares da Criação já não existem. Embora a luz emitida na região revele agora as transformações sofridas pela estrutura, estima-se que a onda de choque de uma supernova ocorrida há 6 mil anos tenha varrido o gás e poeira das famosas colunas. Daqui a cerca de mil anos, essa onda de choque deve atingir os pilares — sob o nosso ponto de vista, é claro —, destruindo-o.
Assim como os Pilares da Criação, inúmeras outras estruturas do universo que atualmente observamos deixaram há muito de existir. São fantasmas, ilusões provocadas pela longa trajetória que a luz precisa percorrer para encontrar nosso grão de poeira na imensidão do cosmos.
Mais do que meras janelas para o espaço, portanto, os telescópios são janelas para o tempo e, nesse quesito, o Hubble é o nosso camarote. Vida longa ao Hubble!
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